domingo, 8 de junho de 2008

Pra ti Doutor.



Misto de taura e de maula...
Don Wallau desde piazote...
Se forjou num sirigote...
Com os berros da gadaria...
Camargo,revirado,pinhão e geada fria...
Lá na estância do Socorro...
Pras bandas de Vacaria...


Na faculdade da estância...
Foi graduado ano a ano...
E aprendeu a ser vaqueano...
No rude chão da mangueira...
Por onde a lição campeira...
Nossa herança campejana...
Sagrada bíblia pampeana...
É escrita em meio à poeira...

Já carregava na estirpe...
O ofício de domador...
Amanunciava um xucro...
Com ares de encantador...
E com palavras macias...
Tirava baldas e manias...
Como espinhos de uma flor...

Segredos de um tapejara...
Duas varinhas de taquara...
E de um urco se arrimava...
Com jeito arrinconava...
Sem nunca dar-lhes castigo...
Fazia mais um amigo...
Mais um potro se entregava...

E foram muitos invernos...
Muitos cavalos passaram..
Todos fletes se entregaram...
Ao seu jeitão racional...
A doma tradicional...
A que os charruas deixaram....
Pois estes bravos montavam...
Só com uma manta e buçal...

Lembrar dos pingos de lei...
Os de campo e os de prova...
E a lembrança se renova...
Com todos enfileirados...
Na forma sendo lembrados...
Nos sonhos deste caudilho..
O Tarzã era o petiço,o Marotí o colorado...
O Afago o tostado,o Sereno era o tordílio...

Por diante ainda na forma...
Mais recuerdos na lembrança...
A Overa,a mula Negrinha...
E a sestrosa da Esperança...
Seguindo a fila o guerreiro...
E mais adiante um pingaço...
Um zaino de orelhas grandes...
Que batizou de paipasso...

E sobre os campos dobrados...
Refazendo a sua trilha...
Devagarzito no tranco...
Numa zaina bico branco...
Esta!!!
Esta! Era a Farroupilha...

Foi muito serviço de campo...
Vacinação,marcação a castração e a doma...
Nunca refugou parada...
E pras lidas de Encruzilhada...
Ele comprou a Paloma...

E não podia faltar...
Os seus parceiros de lida...
O Chico e o Jucundino..
O Laurindo e o Abitino..
O Valdir e seus irmãos...
E o amigo Pedrinho...
Hermanos de coração...
Que ele guarda com carinho...
O velho fica à sonhar...
E chega pra amadrinhar...
O João Boeira Sobrinho...

Dedicou-se a medicina...
Homem que entende da cosa...
Sempre junto com seus filhos...
Com seus netos sua esposa...
Viram muitas cavalgadas...
Por este Rio Grande amado...
Deus permita muitos anos...
Conviver no teu costado...
(Holmes Gomes Filho)

Um comentário:

Paysano disse...

Nunca ninguém "leu e transcreveu" tão bem a essência da alma de meu pai. Fiquei emocionada em ouvir, de uma forma tão poética, tudo aquilo que sintetiza esta pessoa de quem sou fã incondicional. Parabéns pela sensibilidade em perceber as pessoas e transformar esta percepção em versos lindos.Obrigado por este lindo presente (para ele e para nós todos da família).
Ana Cristina Wallau Kretzmann